Vizinhos ajudam vizinhos através de bancos de tempo

Vizinhos ajudam vizinhos através de bancos de tempo

Por Michaela Haas

Num canto tranquilo do norte da Califórnia, entre pomares envoltos em neblina e vinhas ondulantes que alimentam a rica economia agrícola da região, uma forma curiosa de riqueza está a acumular-se silenciosamente. Não brilha como o ouro nem flui como dinheiro. Não é rastreada em Wall Street nem guardada em cofres suíços. Mas, para aqueles que nela trocam, pode ser a moeda mais preciosa de todas: o tempo.

Quando Michael Fels e o seu parceiro, Jesada “Wee” Simla, quiseram aprender a fazer croissants com manteiga, não recorreram a vídeos online nem se inscreveram num curso de culinária caro. Em vez disso, publicaram um pedido no banco de tempo local da cidade de Sebastopol, a cerca de 80 quilómetros a norte de São Francisco. Pouco depois, um chef profissional reformado convidou-os para a sua cozinha, onde passaram uma tarde a estender massa e a rir juntos — uma experiência que rendeu mais do que apenas pastelaria. “Ele era mesmo um chef de excelência”, recorda Fels, sorrindo enquanto folheia fotografias daquele dia de sorrisos cobertos de farinha, croissants estaladiços, alegria capturada em migalhas e crosta.

O rotário Michael Fels (à direita) e o seu parceiro, Jesada “Wee” Simla, aprendem a fazer croissants através do banco de tempo local.
Cortesia do Banco de Tempo da Área de Sebastopol.

É isto, explica Fels, que está no cerne de um banco de tempo. “Dás uma hora do teu tempo e ganhas uma hora em troca”, diz ele. “E, por vezes, o que recebes de volta é muito mais.”

Os bancos de tempo funcionam com base num princípio que parece simultaneamente antiquado e discretamente revolucionário: que todos têm algo para oferecer e que o tempo e as competências de cada pessoa têm o mesmo valor. Nesta economia benevolente, uma hora a arranjar a torneira de um vizinho vale o mesmo que uma hora a preparar impostos ou a cozinhar comida tailandesa.

Em resumo, um banco de tempo faz com o tempo aquilo que os outros bancos fazem com o dinheiro: armazena-o e troca-o. As pessoas recebem créditos — normalmente medidos em horas — quando prestam um serviço a outro membro do banco de tempo. Quem utiliza créditos para receber um serviço vê a sua conta debitada. Através de uma plataforma online, os utilizadores registados podem oferecer e solicitar serviços, bem como registar os seus créditos e débitos.

Não há troca de dinheiro, embora os membros possam acordar cobrir despesas como materiais ou combustível. O sistema é flexível, permitindo que cada pessoa ofereça o tempo que quiser — pouco ou muito — e até a opção de doar horas de crédito a um amigo ou a um fundo comunitário.

Membros do banco de tempo fazem voluntariado num café de reparações.
Cortesia do Banco de Tempo da Área de Sebastopol.

Milhares de bancos de tempo com várias centenas de milhares de membros foram estabelecidos em pelo menos 48 países, desde aldeias rurais no Senegal até cidades movimentadas no Japão, passando pela China, Nova Zelândia, Malásia, Argentina e Brasil, até países por toda a Europa, com milhões de horas trocadas. Só nos Estados Unidos, mais de 500 redes locais estão a ajudar mais de 40.000 membros a reinventar o que significa pertencer, ser necessário e retribuir. Alguns bancos de tempo especializam-se em missões bem definidas, como apoio a pais de crianças com deficiência ou prestação de cuidados a idosos e serviços de cuidados paliativos, colmatando necessidades que outras organizações não conseguem satisfazer. Existem até bancos de tempo que visam reduzir a reincidência entre jovens detidos e ajudar na reintegração social de pessoas que saem da prisão, acreditando que isso pode apoiar o seu bem-estar e fortalecer os seus laços sociais e comunitários.

Em Sebastopol, uma cidade com pouco mais de 7.000 habitantes, o banco de tempo local conta com 300 membros. Fels, autor e dramaturgo, oferece a sua experiência em edição, e o seu parceiro, Simla, oriundo da Tailândia, faz voluntariado enrolando autênticos rolinhos primavera tailandeses. Outros trocam boleias para o aeroporto, reparações de canalização ou algumas horas de companhia numa tarde solitária.

Para Fels, presidente do Rotary Club de Sebastopol Sunrise, o seu envolvimento com o Rotary e o banco de tempo andam de mãos dadas: “A ideia de ambos é aproximar a comunidade.” O seu clube Rotary foca-se no serviço comunitário e, numa sondagem recente, mais de metade dos seus 40 membros indicaram o serviço comunitário como o aspeto mais importante da sua participação. “Podemos ajudar um membro com algumas reparações em casa que não consegue fazer sozinho”, diz Fels, dando um exemplo de onde o banco de tempo e o Rotary se cruzam.

Ele conheceu o banco de tempo através do seu amigo David Gill, coordenador do banco de tempo de Sebastopol e, informalmente, um verdadeiro magnata do tempo. Gill tem 384 horas na sua “conta-poupança”, “mas não registo nenhuma das minhas horas desde 2022”, diz ele. “Provavelmente devia registar mais 750!” Gill gosta de oferecer a sua experiência em programação informática, edição e planeamento financeiro. Em troca, pede ajuda quando precisa de uma boleia para o aeroporto ou de transportar móveis pesados. “O Steve, que vive na rua ao lado, levou-me a mim e ao meu parceiro ao aeroporto de Santa Rosa. O Ken arranjou a máquina de gelo do nosso frigorífico e a Elaine fez alguns trabalhos elétricos”, conta ele, enumerando alguns dos muitos exemplos.

Se tivesse recorrido a serviços profissionais de reparação ou táxi, os custos teriam sido significativos. No entanto, o “juro”, por assim dizer, vai muito além do valor de uma simples transação. Os bancos de tempo estão a construir capital social. “Fiz amizades maravilhosas que de outra forma nunca teria feito, e agora convidamo-nos mutuamente para festas no jardim”, diz Gill. “É sobre fazer parte da comunidade. Não se pode pôr um preço nisso.”

Gill chegou ao banco de tempo como a maioria dos vizinhos: através de um sussurro, um panfleto, um amigo. O administrador de cuidados de saúde semi-reformado achou imediatamente que era uma excelente ideia e começou a ajudar na coordenação, e pouco tempo depois tornou-se o coração da operação. Agora, regista as suas horas com a confiança tranquila de quem conhece o seu valor — não em dólares, mas em algo mais profundo: “Acho que nunca me senti tão rico.”

Os membros do banco de tempo embelezam os jardins da biblioteca da cidade californiana de Sebastopol. A ideia do tempo como uma moeda que se pode “depositar” remonta a vários séculos.
Cortesia do Banco de Tempo da Área de Sebastopol.

Muitos bancos de tempo são projetos comunitários voluntários, mas o de Sebastopol é financiado pela autarquia e funciona com o estatuto de organização sem fins lucrativos através do Centro Cultural Comunitário. Algumas cidades descobrem que apoiar bancos de tempo compensa largamente, graças aos serviços que os seus membros prestam a populações como os idosos. Os membros do banco de tempo em St. Gallen, na Suíça, por exemplo, ajudam regularmente os residentes mais velhos a tratar de recados, fazer compras, ir ao médico ou simplesmente a encontrar companhia — tudo isto pode aliviar a pressão sobre os serviços financiados pelo Estado.

Afinal, tempo é dinheiro. “Cada hora de voluntariado [nos EUA] é avaliada em cerca de 29 dólares”, explica Krista Wyatt, diretora executiva da organização sem fins lucrativos TimeBanks.Org, sediada em Washington, D.C., que ajuda voluntários a criar bancos de tempo em todo o mundo. “Agora pensem nas milhares de dólares que uma cidade poupa quando centenas de cidadãos servem a sua comunidade gratuitamente.”

A ideia do tempo como uma moeda que se pode depositar remonta a vários séculos, às teorias laborais dos primeiros economistas. Nos EUA, o advogado de direitos civis Edgar Cahn redescobriu a ideia dos bancos de tempo enquanto procurava formas de combater a pobreza no início da década de 1980, depois de os fundos para programas sociais terem desaparecido.

Hoje, os bancos de tempo são como uma versão 2.0 do que acontecia naturalmente nas pequenas comunidades: os vizinhos ajudavam a erguer celeiros e a criar crianças. Mas num mundo cada vez mais fragmentado, esses sistemas de apoio naturais foram-se desintegrando. Michael Fels vê o banco de tempo como uma forma de os reconstruir.

E talvez essa seja a verdade mais profunda dos bancos de tempo: promovem a ligação humana e a transformação silenciosa do tempo em cuidado, beleza e pertença. Quando oferecido livremente, o tempo — tal como a bondade — regressa multiplicado.

Em números
48 Países que têm bancos de tempo
500.000+ Membros de bancos de tempo em todo o mundo
29 dólares Valor médio de uma hora de voluntariado nos EUA em 2022

Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de setembro de 2025 da revista Rotary.

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