Pelo amor à natureza

Pelo amor à natureza

Este campo de férias está a formar uma nova geração de guardiões do ambiente

Por Amy Hoak

Num dia de verão, se passar pelas margens do Clear Lake, a poucos minutos de Peterborough, Ontário, em vez dos sons de notificações dos telemóveis, ouvirá gargalhadas e gritos de alegria. As crianças correm em caiaques, apanham água à procura de rãs e fazem pulseiras da amizade. Ao anoitecer, reúnem-se em torno de velas acesas e cantam ao som de uma guitarra.

Com cerca de 80 hectares de terrenos com florestas, zonas húmidas e frente de lago, o Camp Kawartha, 30 quilómetros a norte de Peterborough, encanta crianças e adultos.

Mas é mais do que apenas um local bonito para as crianças passarem o verão longe dos ecrãs ou um conjunto de atividades que incentiva a aprendizagem ao ar livre. No coração do Camp Kawartha está uma missão ainda mais ambiciosa: ensinar os jovens a importância de cuidar da terra onde vivem e fomentar uma nova geração de guardiões do ambiente.

É uma missão importante para um local com raízes profundas no Rotary Club de Peterborough, que fundou o que viria a ser o Camp Kawartha em 1921. Com o apoio de gerações de rotários dedicados, o campo serve hoje cerca de 16.000 pessoas anualmente, em dois locais e através de programas de sensibilização.

Fundado em 1921, o Rotary Boys’ Camp — hoje conhecido como Camp Kawartha e aberto a todos — foi criado por Claude Rogers e outros rotários para proporcionar às crianças a oportunidade de saírem da cidade e passarem mais tempo em contacto com a natureza.
Cortesia de Camp Kawartha

“Sabemos que os jovens estão cada vez mais preocupados com as alterações climáticas, porque são eles que vão herdar os problemas das gerações anteriores”, afirma Bruce Gravel, rotário de Peterborough. “As crianças recebem uma educação sólida enquanto estão no campo sobre a importância do ambiente, de manter o ar e a água limpos e de minimizar a nossa pegada.”

Claro que esta é a missão atual do campo. Originalmente, foi fundado como Rotary Boys’ Camp, com o objetivo de proporcionar a rapazes carenciados a oportunidade de sair da cidade e passar tempo na natureza, conta Gravel, que trabalhou com a sua esposa, Frances, num livro sobre a história do clube de Peterborough para o seu centenário. Por incentivo de Claude Rogers, membro fundador do clube, os rotários adquiriram 4 hectares de terreno junto ao Clear Lake por apenas 250 dólares em 1921 e construíram eles próprios as primeiras estruturas do campo. O primeiro grupo de campistas contou com 40 rapazes.

Em 1954, o YMCA de Peterborough comprou o campo. Mas na década de 1980, enfrentou dificuldades financeiras e esteve prestes a ser vendido a um promotor imobiliário. Isso poderia ter acontecido se não fosse a intervenção de 10 rotários, que juntaram dinheiro para comprar o campo, dando-lhe uma segunda vida. Reabriu oficialmente como Camp Kawartha Inc. em 1985. “O Camp Kawartha que existe e prospera hoje deve-se à base sólida criada por esses 10 rotários”, refere Gravel.

Após a compra, voluntários e comerciantes locais trabalharam para recuperar o campo e acolher novamente os campistas. “As cabanas não tinham isolamento nem eletricidade”, recorda John Cockburn, o último sobrevivente dos 10 rotários que salvaram o campo. “Não tínhamos cais, nem muitos caiaques ou canoas.” Cockburn, com 85 anos e ainda membro do clube de Peterborough, afirma que ter salvo o campo foi um dos pontos altos dos seus mais de 60 anos como rotário.

O Camp Kawartha tornou-se uma organização sem fins lucrativos, mantendo o Rotary Club de Peterborough o seu apoio contínuo. Hoje, o campo acolhe todas as crianças. “Nos últimos 20 anos, o campo tem-se dedicado a ajudar jovens, líderes empresariais e líderes de ONG a desenvolverem uma maior consciência sobre o planeta onde vivemos”, refere Jim Coyle, rotário de longa data e voluntário no Camp Kawartha, envolvido em projetos e angariação de fundos.

Além do local original, o Camp Kawartha conta com um Centro Ambiental, localizado junto ao Santuário de Vida Selvagem da Universidade de Trent, em Peterborough, onde realiza atividades durante todo o ano para crianças, professores e ações de team building para empresas.

“Basta ter uma ligação à terra — uma memória positiva ou o conhecimento de uma planta ou animal — para que a nossa relação com a natureza se torne mais forte”, explica Lauren Yandt, professora suplente e voluntária no Centro Ambiental, destacando o impacto destas experiências na forma como leciona. “Ninguém quer proteger ou ser defensor de algo com que não tem qualquer ligação.”

A prova de que as lições do campo estão a marcar os jovens vê-se nos muitos campistas que prosseguem estudos em áreas ambientais e seguem carreiras ligadas à conservação. Molly McLean, ex-campista do Camp Kawartha, é um exemplo disso. Atualmente a estudar engenharia ambiental na Universidade de Dalhousie, em Halifax, afirma que o tempo passado no campo a inspirou a seguir esta área.

“Passar o verão no Camp Kawartha, em contacto com a natureza e quase sem tecnologia, fez-me perceber o quanto me importava com o ambiente”, afirma McLean, que este verão é diretora de operações do campo. Para as crianças de hoje, brincar no lago, aprender os nomes das plantas ou explorar o que vive debaixo das pedras é uma mudança bem-vinda. Sem as distrações tecnológicas, afirma: “És forçado a explorar e a criar ligações com quem está à tua volta.”

Há alguns anos, o Camp Kawartha encomendou um estudo para explorar a aprendizagem através da exploração ao ar livre. O objetivo era compreender que experiências na infância fazem com que uma pessoa se preocupe com o ambiente quando adulta, explica Jacob Rodenburg, diretor executivo do campo. O guia resultante, Pathways to Stewardship & Kinship, sugere atividades para todas as idades, desde apanhar insetos até calcular a pegada ecológica.

Situado em Clear Lake, a 30 quilómetros a norte de Peterborough, Ontário, o Camp Kawartha promove hoje (como refere um rotário de longa data) “um apreço pelo planeta em que vivemos” junto de crianças, líderes empresariais e líderes de ONGs.
Cortesia de Camp Kawartha

O Camp Kawartha também colabora com o Museu Canadiano do Canoagem para oferecer o programa anual Adventure in Understanding, uma viagem de canoa de vários dias para jovens indígenas e não indígenas dos 16 aos 18 anos, pelo canal Trent-Severn, para aprender sobre a terra e as suas gentes. O programa foi desenvolvido pelo Rotary Club de Peterborough Kawartha com o apoio do Comité de Juventude da First Nation de Curve Lake.

Os clubes Rotary de Peterborough Kawartha e de Bridgenorth-Ennismore-Lakefield também têm apoiado o Camp Kawartha ao longo dos anos, refere Gravel. Para além do voluntariado prático, os rotários angariam fundos para o campo, ajudando a reduzir os custos de inscrição para crianças de famílias com baixos rendimentos.

Os rotários também têm contribuído para melhorias estruturais significativas no campo, como a ampliação do refeitório principal em 2004, utilizando construção ecológica com fardos de palha — um dos primeiros edifícios do género em Ontário, conta Gravel.

Em 2021, o clube de Peterborough comprometeu-se com 100.000 dólares em honra do seu centenário para a construção de um novo centro de saúde. Este centro, também construído com fardos de palha, foi projetado para ter uma pegada de carbono negativa, absorvendo dióxido de carbono em vez de o emitir. “Produz mais energia do que consome, como uma árvore, e a arquitetura integra-se com o terreno”, explica Rodenburg. Está rodeado de jardins polinizadores e sensoriais, “onde a natureza e as pessoas podem prosperar”, acrescenta.

É provável que Claude Rogers nunca tenha imaginado o Camp Kawartha de hoje ou como os rotários locais lutariam para o manter vivo. Mas não é comum uma organização manter-se durante mais de 100 anos, sublinha Coyle. “Tenho muito orgulho que o nosso Rotary Club o tenha iniciado em 1921”, conclui, “e que continue a existir até hoje.”


Este artigo foi originalmente publicado na edição de julho de 2025 da revista Rotary Canada.

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