Por Claudia Urbano, Equipa de Serviços e Envolvimento do Rotary.
Muitas vezes, projetos de serviço bem-intencionados concentram-se em doar equipamentos: bicicletas, computadores ou até material médico. Estes gestos são generosos e nascem da boa vontade e compaixão. Mas e se o seu clube utilizasse os mesmos recursos para criar um impacto mais duradouro?
Em Peruíbe, uma cidade costeira do Brasil, a queda nas taxas de vacinação infantil levantou preocupações sobre o regresso de doenças erradicadas. O Rotary Club de Peruíbe não queria ver crianças da sua comunidade a sofrer de doenças preveníveis ou a enfrentar o risco de paralisia provocada pela pólio. Sonharam com crianças saudáveis, a brincar, sorrir e prosperar.
Assim, em conjunto com o Subcomité PolioPlus do Distrito 4420, desenvolveram um projeto financiado por subsídio distrital para vacinar crianças nas escolas. Embora o projeto incluísse doações, estas foram mais do que contribuições de caridade — fizeram parte de uma iniciativa comunitária estratégica, desenhada para criar impacto duradouro.
Este artigo partilha lições-chave dessa iniciativa, mostrando como mesmo projetos de pequena escala podem fazer a diferença através de planeamento cuidadoso e parcerias locais fortes.
Compreender o problema
Antes de agir, o clube reuniu-se com autoridades locais de saúde e educação para compreender melhor as barreiras que as famílias enfrentavam no acesso à vacinação. Descobriram que o problema não era a falta de vacinas, mas sim:
- Desinformação e medo dos efeitos secundários
- Horários pouco convenientes nos centros de saúde
- Dificuldades de transporte, especialmente em áreas rurais
O plano: chegar às crianças onde elas estão
Com esta informação, o clube associou-se aos departamentos municipais de saúde e educação para desenvolver um plano estratégico de aumento das taxas de vacinação infantil, que incluiu:
- Levantamento das crianças não vacinadas (0 a 5 anos) nas escolas
- Revisão dos registos de vacinação para identificar lacunas
- Pedido de consentimento parental para administração de múltiplas vacinas
- Realização de vacinações nas próprias escolas, garantindo acesso e conveniência
- Divulgação da campanha através de agentes comunitários de saúde nos bairros
Contributos do clube
Com base nas reuniões com grupos comunitários e autoridades, o clube e o subcomité PolioPlus desenvolveram uma proposta de subsídio distrital para financiar e doar:
- 17 bicicletas ao Departamento Municipal de Saúde para aumentar a capacidade dos agentes comunitários na divulgação da importância da vacinação
- Materiais educativos (folhetos e vídeos) para distribuição nas escolas e via WhatsApp, para combater a desinformação
- Dias de multivacinação em 31 escolas, oferecendo vacinas diretamente onde as crianças estavam
Resultados obtidos
Ao trabalhar com os sistemas existentes, o projeto alcançou resultados sólidos e mensuráveis:
- 837 crianças com registos de vacinação atualizados
- 1.367 pais informados sobre a importância das vacinas
- 5.000 folhetos distribuídos para aumentar a consciencialização pública
Impacto gerado
Mais importante ainda, o projeto alcançou vários impactos:
Resultados pretendidos:
- Melhoria na cobertura vacinal das crianças
- Aumento da consciencialização dos pais e redução da hesitação vacinal
Resultado positivo não previsto:
- Os agentes de saúde começaram a usar as bicicletas para visitar idosos com necessidade de cuidados em casa, ampliando o alcance do projeto para além das crianças
Quatro lições para os clubes
Este projeto demonstra que esforços de pequena escala podem gerar mudanças significativas quando os clubes vão para além da mentalidade de doação e planeiam de forma estratégica:
1. Comece com um objetivo de longo prazo e estabeleça parcerias com quem já trabalha no terreno
O clube queria melhorar as taxas de vacinação infantil. Em vez de se limitar a doar bicicletas ou folhetos, perguntou:
“Quem já está a fazer este trabalho e como podemos apoiar melhor?”
Assim, estabeleceram uma parceria estratégica com o Departamento Municipal de Saúde e outras instituições locais, reforçando sistemas existentes e potenciando profissionais que estavam melhor posicionados para gerar mudança duradoura.
2. Avalie a comunidade de forma estratégica
Avaliar a comunidade nem sempre significa realizar grandes reuniões públicas. Neste caso, significou conversar com profissionais de saúde e educação locais, que estão mais próximos do problema. Mesmo projetos pequenos beneficiam de uma avaliação cuidadosa, começando com:
- Quem já está a enfrentar este problema?
- Quais as lacunas que enfrentam?
- Como podemos facilitar o seu trabalho?
3. Pense para além da doação
Este projeto não exigiu um subsídio enorme ou um planeamento complexo. Pensando para além da doação, o clube:
- Apoiou infraestruturas de saúde existentes
- Melhorou a cobertura vacinal
- Gerou benefícios não previstos, como o acesso alargado a cuidados a idosos
Foi a abordagem colaborativa, mais do que o valor da doação, que tornou o projeto tão impactante.
4. Meça o que realmente importa
O clube monitorizou não apenas o que foi doado, mas o que mudou. Assim, pôde demonstrar:
- 837 crianças com vacinas em dia
- 1.367 pais informados
- Consciencialização pública ampliada através de 5.000 folhetos
A medição garante responsabilidade e aprendizagem, fortalecendo também a narrativa do clube para futuros subsídios ou parcerias.
Projetos como este recordam-nos que o serviço mais eficaz não começa com a doação, mas sim com a escuta. Ideias simples de doação podem tornar-se transformadoras quando orientadas por:
- Um objetivo claro e de longo prazo
- Respeito pelo conhecimento local
- Parcerias estratégicas
- Compreensão prática da comunidade
Antes de o seu clube considerar uma doação, pergunte:
- O que a comunidade quer realmente mudar e quem podemos envolver para sermos mais eficazes?
- Como podemos medir o nosso trabalho para garantir que gera os resultados esperados?
Ferramentas como o Manual de Avaliação de Comunidades e o Guia de Impacto do Rotary podem apoiar os clubes na planificação de projetos sustentáveis.
Quando ouvimos, planeamos de forma cuidadosa e trabalhamos com a comunidade, até as ações mais simples — como doar uma bicicleta — podem ter um impacto duradouro.
Com contribuições de Silvia Haick, Presidente 2022-25 do Subcomité PolioPlus do Distrito 4420, e Rotary Brasil Magazine.
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