Um único ato de bondade pode desencadear uma transformação

Um único ato de bondade pode desencadear uma transformação

Ayda Özeren num evento de promoção do seu livro, cujas receitas reverteram para a educação de raparigas.

Por Ayda Özeren, Rotary Club de Izmir-Gundogdu, Izmir, Turquia

Há muitos anos, numa aldeia esquecida da Anatólia, um lugar tão remoto que nem os mapas conheciam o seu nome, fui enviada pelo banco onde trabalhava para me reunir com os agricultores locais. A minha missão era falar-lhes sobre dinheiro e despertar neles uma compreensão das questões financeiras, como parte de um programa lançado pelo banco para promover os serviços bancários ao público. Talvez umas poucas centenas de pessoas chamassem aquela pequena comunidade de lar.

Ao entrar na única cafetaria da aldeia, deparei-me com uma cena inesperada: uma sala cheia, não de agricultores, mas das suas esposas e filhas. Não tinha previsto tal reunião de mulheres naquele recanto isolado do mundo. Soube então que os agricultores, pouco inclinados a assistir a uma sessão liderada por uma mulher, tinham enviado as suas familiares em seu lugar. Uma onda de surpresa, desilusão e nervosismo apoderou-se de mim. Desejei estar num ambiente mais familiar, mais polido. Mas, depois de uma viagem de duas a três horas, só queria cumprir a minha tarefa e regressar a casa.

Foi então que as vi verdadeiramente. Os seus olhos, abertos de curiosidade e impaciência, estavam fixos em mim. Ao começar a apresentar-me e a explicar o meu propósito, uma mulher mais velha interrompeu-me suavemente, revelando uma verdade comovente: apenas dez mulheres naquela sala sabiam ler e escrever. Ensinar literacia financeira, avisou-me, seria um desafio profundo.

Ainda assim, comecei, falando sobre gastos conscientes e sobre poupar para necessidades e desejos. Quando terminei e comecei a arrumar os meus pertences, uma jovem aproximou-se de mim, visivelmente tímida, com o olhar desviado. Ofereci-lhe um sorriso caloroso, na esperança de lhe dar coragem. Sem levantar os olhos, pediu-me discretamente o meu número, e eu entreguei-lhe o meu cartão de visita.

“Gostava de ser como você”, murmurou, quase inaudível. Incentivei-a, com o coração tocado, “Liga-me se precisares de alguma coisa.”

Meses depois, de volta ao meu escritório, ouvi uma batida suave à porta. Lá estava uma jovem, com os braços cheios das flores mais belas que alguma vez vi. Demorei um momento a reconhecê-la, mas depois, a memória daquela aldeia distante, daquela humilde cafetaria e do seu olhar tímido inundou-me a mente.

Ela apresentou-se e, com um sorriso radiante, contou-me a sua história. A minha palestra, naquele dia na aldeia, tinha plantado uma semente. Tornou-se cultivadora de flores, transformando a sua vida ao vender as próprias flores que agora segurava.

O seu sucesso, nascido de um gesto tão simples, fez-me lembrar o rapaz que atirava estrelas-do-mar ao oceano, da história “O Lançador de Estrelas” de Loren C. Eiseley (que tem sido adaptada e recontada de várias formas). Num lugar onde senti que os meus esforços poderiam perder-se, onde os desafios pareciam impossíveis de superar, uma única semente de esperança foi semeada. E naquele momento, compreendi que, mesmo nos cantos mais esquecidos do mundo, um único ato de bondade, uma única lição partilhada, pode desencadear uma transformação — uma vida bela de cada vez. Fiz a diferença para ela, e isso, por si só, foi tudo.

Ayda Özeren é autora, mediadora e oradora profissional, trabalhando com líderes e organizações para criar paz, resolver conflitos e transformar visões em resultados. O seu trabalho na valorização de mulheres e raparigas no Rotary e além, valeu-lhe o Prémio de Liderança Sylvia Whitlock em 2024-25. Nomeia alguém que conheças e que esteja a promover o papel das mulheres no Rotary durante o mês de agosto.

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