Por Gurjeet S. Sekhon, ex-governador do Distrito 3070 (Índia) e membro da Comissão de Crescimento de Membros do Rotary International.
Num mundo que tantas vezes parece fragmentado e acelerado, o anseio por pertencer, por nos sentirmos vistos, ouvidos e valorizados, continua a ser um dos desejos humanos mais profundos.
Para os membros de um clube Rotary, onde o serviço, o companheirismo e a liderança se cruzam, cultivar um verdadeiro sentido de pertença não é apenas importante, é fundamental.
Quando as pessoas sentem que pertencem, permanecem. Lideram. Servem com o coração. Crescem. Mas uma cultura assim não acontece por acaso. Constrói-se intencionalmente, camada a camada, conversa a conversa, coração a coração.
Eis como os clubes Rotary em todo o mundo podem tecer uma tapeçaria de pertença, enraizada nos nossos valores comuns e enriquecida por cada voz única.
1. Criar espaço para todas as vozes
A pertença começa quando cada voz não é apenas ouvida, mas convidada a participar.
Considere-se a história de uma jovem violinista numa orquestra comunitária, calada, insegura, muitas vezes ignorada. Um dia, o maestro parou e pediu-lhe que desse a sua interpretação de uma passagem musical. Esse simples gesto deu-lhe coragem para falar. A sua visão transformou a música e o seu papel no grupo.
No Rotary, devemos procurar ativamente as vozes mais silenciosas, os novos membros, os jovens profissionais, pessoas de origens sub-representadas ou que simplesmente ainda não encontraram o seu lugar. Estamos a convidar essas pessoas a contribuir nas reuniões? Estamos a oferecer-lhes papéis com significado na organização de projetos?
A magia do Rotary está na diversidade de idades, profissões, culturas e ideias. Cada voz enriquece a harmonia. Façamos espaço para todas.
2. Celebrar as contribuições, grandes e pequenas
Uma história bem conhecida da NASA, nos anos 60, fala de um funcionário da limpeza que, quando lhe perguntaram qual era o seu trabalho, respondeu: “Estou a ajudar a pôr um homem na Lua.” Via o seu papel, por mais simples que fosse, como essencial à missão.
Devemos fazer o mesmo no Rotary.
Celebre o membro que traz comida para as reuniões. O que envia mensagens de parabéns. A presença discreta que tem sempre uma palavra amiga. Esses gestos não fazem manchetes, mas são o verdadeiro coração da pertença. Reconheça-os nas reuniões, nos boletins informativos e em mensagens pessoais. Que cada membro saiba: tu és importante. O teu contributo conta.
3. Construir através de histórias e experiências partilhadas
Os seres humanos ligam-se através de histórias, não de estatísticas. Um clube de leitura de uma pequena cidade pediu a cada membro que partilhasse o livro que mais lhe mudou a vida. A noite transformou-se numa jornada poderosa de riso, reflexão e ligação.
O Rotary pode fazer o mesmo.
Convide os membros a partilhar o seu “momento Rotary”, uma história de serviço, uma lição aprendida ou a razão pela qual se juntaram. Organize “Noites de Histórias Rotary”. Destaque histórias pessoais nas reuniões ou boletins. Estas histórias aprofundam a ligação. Humanizam a nossa missão. Lembram-nos de que não fazemos apenas parte de um clube, mas das jornadas uns dos outros.
4. Incluir não é só ter boas intenções, é desenhar com propósito
Boas intenções não chegam. A inclusão exige intenção no planeamento.
Uma empresa tecnológica global alterou o horário de uma formação de liderança depois de perceber que as sessões à noite excluíam pais com filhos pequenos. Com essa simples mudança, a participação duplicou.
Os clubes Rotary podem fazer a mesma pergunta: os nossos horários e locais de reunião são acessíveis a profissionais ativos, cuidadores ou seniores com mobilidade reduzida? A nossa comunicação é inclusiva em termos de línguas e capacidades digitais? Estamos a mostrar, não só com palavras mas com estrutura, que todos pertencem?
Incluir não é um visto num checklist, é a lente através da qual devemos desenhar tudo.
5. Criar momentos de ligação além do serviço
Um clube Rotary em Nairobi visitou uma escola rural para plantar árvores. Após a plantação, em vez de partirem, os membros ficaram para jogar futebol com os alunos. Esse momento espontâneo gerou uma relação contínua que levou a mentorias, apoio e um laço duradouro.
O serviço pode ser o nosso alicerce, mas o companheirismo é o que nos mantém unidos.
Organize cafés informais. Planeie noites culturais, caminhadas ou idas ao cinema. Incentive os membros a trazer a família, amigos e histórias. Estes pequenos momentos criam raízes profundas. Porque quando construímos amizades, e não só comités, a ligação permanece a longo prazo.
6. Liderar com empatia e propósito
Durante o auge da pandemia, uma diretora hospitalar fez chamadas telefónicas noturnas a todos os membros da sua equipa. Não ligava para dar ordens, mas para ouvir. Esse gesto de empatia, mais do que qualquer diretiva, restaurou a moral e a unidade.
Os líderes rotários podem fazer o mesmo.
Preocupe-se com os membros, não só com os projetos. Celebre aniversários e marcos importantes. Esteja presente nos momentos de alegria e também de dificuldade. Quando os líderes lideram com compaixão, os membros seguem. O Rotary torna-se mais do que uma organização de serviço — torna-se uma família.
Um círculo onde todos têm lugar
Imagine o seu clube Rotary como uma grande mesa redonda. À sua volta, pessoas de todas as origens: o médico reformado, a jovem engenheira, o pequeno empresário, a professora, o estudante. Cada um traz algo único. Cada um merece sentir que pertence.
Criar pertença não é um esforço pontual. É uma cultura que se constrói pelas histórias que partilhamos, pelas mãos que estendemos, pela gratidão que mostramos e pela empatia que vivemos.
Porque quando as pessoas sentem que pertencem, dão mais, crescem mais e ficam mais tempo. E juntos, vamos mais longe, no serviço, na amizade e no impacto.
Construamos clubes Rotary onde todos encontrem um lugar à mesa, e se sintam verdadeiramente em casa.
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