Clube marcha contra a violência doméstica

Clube marcha contra a violência doméstica

Por Amy Fallon

Quando David Harmon decidiu mobilizar a sua comunidade contra a violência doméstica, deparou-se rapidamente com o primeiro obstáculo: convencer o presidente da câmara da altura a encerrar ruas para uma marcha. A pequena cidade de Ballina, na costa leste da Austrália, é um destino turístico familiar muito popular, e o autarca temia que a atenção mediática pudesse prejudicar o comércio. “Ele disse: ‘Dave, nunca, jamais vamos fechar uma rua em Ballina para uma marcha contra a violência doméstica. Somos uma cidade turística; não queremos que as pessoas pensem que isso acontece aqui’”, recorda Harmon.

Na altura presidente do Rotary Club de Ballina-on-Richmond e professor reformado, Harmon conseguiu que tantos alunos do ensino secundário se inscrevessem — centenas deles — que o autarca não teve escolha senão encerrar as ruas por razões de segurança. No total, 800 pessoas participaram na marcha de 2019, marcando o início de uma campanha que se expandiria para incluir clubes em todos os 19 distritos rotários da Austrália, Nova Zelândia e Pacífico Sul.

A experiência ilustrou tanto a resistência que Harmon teria de superar, como o apoio que viria a conquistar para transformar a sua comunidade, mudar mentalidades e revitalizar o seu clube rotário. Uma em cada quatro mulheres australianas já sofreu violência por parte de um parceiro íntimo. A prevalência é ligeiramente inferior à do Canadá, Reino Unido ou Estados Unidos, mas há uma crescente frustração com o ritmo do progresso e com o aumento da taxa de mortes. Segundo um projeto online de uma jornalista que procura homenagear mulheres e crianças vítimas de violência, pelo menos 103 mulheres morreram na Austrália no ano passado, mais de metade em contextos de violência doméstica ou familiar.

Para o Rotary Club de Ballina-on-Richmond, na Austrália, a ligação a uma causa importante reforçou a sua imagem pública e revitalizou o número de membros. Da esquerda para a direita: Rob Chilman, Robyn Harmon, David Harmon, Colin Lee e Jodie Shelley.

Crédito da imagem: Mark Lehn

Grandes manifestações em todo o país e a pressão de ativistas levaram o primeiro-ministro, Anthony Albanese, a reconhecer no ano passado que a violência doméstica na Austrália se tornara “uma crise nacional”.

Foi uma morte em Melbourne, em 2018, que motivou Harmon a agir. A irmã de um amigo foi esfaqueada até à morte diante dos seus três filhos e a casa incendiada pelo companheiro. Harmon e a esposa, Robyn — também professora — sabiam do impacto da violência doméstica em crianças em idade escolar, mas essa tragédia foi um verdadeiro choque. “Estava sentado a ouvir o elogio fúnebre e pensei: que raio, isto é uma loucura”, conta. Enquanto presidente eleito do clube, Harmon questionou-se sobre o que poderia fazer para tornar a sua comunidade em Ballina mais segura para mulheres e crianças. Robyn, também membro do clube, acompanhou-o durante meses a bater às portas de instituições da região — das forças de segurança à saúde, educação e organizações de apoio — perguntando como o Rotary poderia ajudar.

A marcha de 2019 foi apenas o começo. David Harmon, com o apoio da esposa e da responsável de imagem pública do clube, Jodie Shelley, estabeleceu parcerias com a polícia de Nova Gales do Sul, escolas, autarquias, empresas e prestadores de serviços para promover a consciencialização e prevenção. A morte de uma mulher em Ballina em 2023 deu ainda mais força à nascente campanha do clube: Não à Violência Doméstica e Familiar.

Funcionários de um clube desportivo e restaurante começaram a vestir, às sextas-feiras, as distintivas camisolas roxas da campanha. Outros membros da comunidade — em empresas, escolas e muito mais — seguiram o exemplo. Desde então, todas as semanas, Ballina — uma pitoresca vila costeira de areias brancas — transforma-se num mar de cor roxa numa expressão visual conhecida como Sextas-Feiras Roxas. Harmon chama-lhes “advocacia vestível” e afirma que têm ajudado a iniciar conversas importantes.

Liga-te a uma causa

O Rotary Club de Ballina-on-Richmond abraçou uma causa importante para a sua comunidade e viu o número de membros crescer. Para aceder ao kit de ferramentas do clube sobre como transformar através da ação, visita rotaryclubofballinaonrichmond.org.au/rotary-zone-8. Para te envolveres na campanha Não à Violência Doméstica e Familiar, considera os seguintes conselhos:

– Organiza uma caminhada comunitária, manifestação pública ou outro evento durante os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência de Género, de 25 de novembro a 10 de dezembro.

-Trabalha em colaboração com autoridades locais, escolas e entidades com experiência em violência doméstica. Através de parcerias, podes aumentar o impacto, o envolvimento da comunidade e a visibilidade pública.

-Apoia o trabalho de organizações que educam jovens sobre relações saudáveis e baseadas no respeito.

Com essa visibilidade, o número de pessoas a denunciar casos aumentou, segundo o superintendente da Polícia do Distrito de Richmond, Scott Tanner. Algumas dessas mulheres foram encaminhadas por Harmon, depois de o abordarem em eventos públicos. “Isso mostra-nos que as mulheres sentem-se acreditadas. Sentem-se ouvidas, validadas e com confiança para denunciar”, diz Harmon.

Com 32 anos de experiência, Tanner afirma que o Rotary mudou o panorama. “Quando entrei para a polícia, a resposta da comunidade à violência doméstica era muito fraca”, diz. Agora, graças ao Rotary, “é impossível passar por Ballina numa sexta-feira sem ver uma camisola roxa.”

Harmon e os restantes membros do clube quiseram ir mais longe e promover uma mudança de cultura que ajudasse a prevenir a violência desde o início. Associaram-se à Associação Nacional de Prevenção do Abuso Infantil para apoiar programas escolares de educação para relações saudáveis. Madelene McGrath, gestora de parcerias estratégicas da associação, diz nunca ter visto um movimento de base tão eficaz como este. “Será pelo tamanho da comunidade? Pela sua abertura? Pela incrível capacidade de mobilização? Deve ser tudo isso junto.”

Como governador do Distrito 9640 em 2023-24, Harmon ajudou a expandir a campanha por toda a Austrália e pela Zona 8 do Rotary, com o seu clube a servir de centro de recursos sobre como apoiar abrigos para mulheres, envolver parceiros de projeto e muito mais.

E percebeu que estar ligado a uma causa importante para a comunidade podia transformar o clube. Desde 2019, o número de membros cresceu de cerca de 30 para quase 90. Phillip Maguire, de 65 anos, foi um dos novos membros. Juntou-se em 2023 depois de ver as camisolas roxas. “A campanha fez-me questionar quem as usava e levou-me até ao Rotary para saber mais”, conta. “Assim que entrei, percebi rapidamente que era um clube com alma e focado em projetos e causas reais.” Hoje, Maguire é presidente-eleito do clube.

Harmon ainda mantém contacto com o antigo presidente da câmara que, inicialmente, se opôs ao encerramento das ruas. “Em 2019, demos-lhe uma pulseira roxa”, diz Harmon. “Nunca a tirou. Tornou-se o nosso maior defensor.”

Esta história foi publicada originalmente na edição de junho de 2025 da revista Rotary.

The post Clube marcha contra a violência doméstica appeared first on Rotary Portugal D1970.



source rotary1970

0 Comentários