Por Aurea Santos, estrategista sênior de Conteúdo e Relações Públicas no escritório do Rotary International no Brasil
O Rotary Club de São Paulo-Tremembé e o Rotary Club de Saronno (Itália) se uniram em uma iniciativa que resultou no primeiro grande projeto da área de meio ambiente do Rotary no Brasil.
O projeto, voltado à preservação da fauna, especialmente aves e macacos, foi desenvolvido em três parques da capital paulista: o Parque Estadual da Cantareira, o Parque Estadual Alberto Löfgren, conhecido como Horto Florestal, e o Parque Municipal Córrego do Bispo.
A proposta de realizar um projeto ambiental no Brasil partiu do clube italiano, mas foram os associados do Rotary Club de São Paulo-Tremembé que colocaram a mão na massa e decidiram atuar nos parques próximos ao clube.
Eles começaram realizando um levantamento para identificar como o clube poderia ajudar na preservação daquelas áreas verdes, consultando os gestores dos parques, biólogos e pesquisadores.
“Nas reuniões e visitas que se deram a seguir, levantamos as demandas e necessidades mais prementes. Após extensa discussão de viabilidade junto aos gestores e pesquisadores, foram escolhidas as ações que se mostraram mais promissoras, viáveis e de maior valor para o meio ambiente”, explica Bruno Pattini, associado do Rotary Club de São Paulo-Tremembé que esteve à frente do projeto.
A iniciativa teve um investimento de mais de R$ 194 mil, incluindo aportes dos dois clubes parceiros, da Fundação Rotária e de outros Rotary Clubs da Itália e do estado de São Paulo. Já foram adquiridos 12 rádios comunicadores para monitoramento dos parques, 19 ninhos artificiais, duas passarelas para a travessia de animais, duas câmeras de monitoramento, três coleiras com sistema de monitoramento UHF e GPS e o recinto de adaptação para soltura de macacos bugios. Está prevista ainda a aquisição de 50 placas educativas sobre a preservação da fauna a serem instaladas nas áreas do Parque Estadual da Cantareira.
Trabalhando para preservar
O biólogo Fábio Ferrão foi o responsável pelas instalações das passarelas suspensas e dos ninhos artificiais. Todos os 19 ninhos foram instalados no Parque Córrego do Bispo. O mesmo parque ficou com uma passarela suspensa, enquanto a outra foi instalada no Horto Florestal.
Os ninhos foram instalados para compensar a retiradas de árvores antigas, que costumavam ter buracos que serviam como ninhos naturais. Com o passar do tempo e de alguns incêndios, essas árvores precisaram ser retiradas pela segurança do público que visita o parque.
“Nos parques, as árvores podres são retiradas, tirando o espaço dos ninhos. Essa modificação é uma compensação”, explica Ferrão. Engana-se, porém, quem pensa que são apenas as aves que utilizam esses ninhos.
Até o início de fevereiro, 11 caixas já haviam sido ocupadas por espécies como abelhas, saruês (gambás) e o bem-te-vi rajado, entre outras espécies.
João Póvoa, gestor do Parque Córrego do Bispo, conta que, hoje, o parque tem 135 espécies de pássaros e que não há mais caça no local. Ele aponta ainda que estão sendo retiradas as árvores que não são nativas da Mata Atlântica, como o eucalipto. Com a saída de árvores podres, 30 mil novas árvores estão sendo plantadas, sendo quatro mil frutíferas.
Assim, Póvoa conta que os ninhos artificiais estão cumprindo sua função. “Já teve filhote esse ano, em uns sete ou oito ninhos”, diz.
Sobre a passarela suspensa, ele destaca sua importância para a preservação da vida dos animais, já que a passagem evita o atropelamento dos bichos.
“Não morre mais macaco atropelado”, afirma. Em 2023, seis macacos morreram atropelados. Segundo o gestor, leva um tempo até os animais se acostumarem ao novo caminho, mas, uma vez que isso acontece, eles passam a adotar a nova rota. “Quando passa o primeiro, passa todo mundo”, diz. “O principal impacto (da passarela) é não morrer bicho”, destaca Póvoa.
Reintroduzindo os macacos bugios
Enquanto as passarelas evitam as mortes dos animais que estão no parque, outra ação do projeto trabalha para reintroduzir na natureza uma espécie que foi quase dizimada há poucos anos.
Em 2017, um surto de febre amarela atingiu a população de mais de quatro mil macacos bugios que vivia no Parque Estadual da Cantareira. A doença, que nem sempre é fatal para seres humanos, tem uma taxa de mortalidade de mais de 95% entre os bugios.
No parque, isso significou praticamente o desaparecimento de sua população de macacos. Os que sobreviveram foram colocados em cativeiro para sua proteção. A situação começou a melhorar apenas em 2021, quando cientistas descobriram que a vacina contra a febre amarela aplicada em seres humanos também funcionava para os macacos.
Agora, com a ajuda do projeto do Rotary, além do trabalho de pesquisadores, biólogos e veterinários, organizado pela Prefeitura de São Paulo, os primeiros grupos de bugios vacinados estão sendo soltos novamente no parque. O uso das coleiras, uma equipada com GPS e duas com sistema UHF de rádio, permitirá o monitoramento de três famílias de bugios.
Com isso, os pesquisadores poderão saber em qual área os animais estão vivendo, o que eles estão comendo e como estão interagindo. Cada grupo de macacos compõe uma família, com macho e fêmea adultos e seus filhotes. A coleira é sempre colocada na fêmea adulta, para não prejudicar a comunicação dos machos, que emitem sons guturais para se expressar.
“Nunca houve um acompanhamento desse tipo”, destaca Katia Florindo, chefe da Unidade de Conservação na Fundação Florestal. Responsável pelo Parque Estadual da Cantareira, Katia apontas os ganhos trazidos pelo projeto do Rotary nos parques beneficiados.
“Toda a infraestrutura, não somente das passagens de fauna, como os ninhos e a introdução dos primatas. Também tem o equipamento que foi doado para a gente fazer a fiscalização, que são os rádios, com as repetidoras dentro dos carros, das viaturas que a gente tem. Para a população, isso é muito importante porque tem visibilidade. Para a academia (universidades) poder estudar também. É uma equipe ajudando a outra.”
Sobre os rádios, Katia aponta que os aparelhos terão diferentes funções para suas equipes. “Nós temos os nossos monitores ambientais da Fundação Florestal, que fazem diversas pesquisas de monitoramento de biodiversidade. Eles ficam espalhados pelo Parque Estadual da Cantareira, e a gente precisa dos rádios para nos comunicar com eles. No meio de uma ocorrência de incêndio, [os rádios servem] para a equipe que está em campo também poder modular (falar) com a gente na viatura. Então, não é somente para incêndio, é também para pesquisa, educação ambiental, é para fiscalização de forma geral”, explica.
Com o projeto quase todo implementado, Pattini faz uma avaliação positiva do impacto gerado pelo Rotary nos parques paulistanos. “O projeto é muito completo envolvendo diversas frentes. O reforço populacional dos bugios é o pilar mais representativo, pois, além de ajudar a recuperar uma população do animal símbolo da Serra da Cantareira ameaçada de extinção, possibilita um trabalho científico singular de uma extensa equipe multidisciplinar e certamente abrirá portas para novas iniciativas com outros grupos de animais e espécies.”
source https://rotaryblogpt.org/2024/03/18/rotary-projeto-ambiental-ajuda-a-proteger-fauna-em-3-parques-de-sp/
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